domingo, 28 de dezembro de 2008

"Quem não tem seio carrega pasta"

Pra relaxar um pouco, interessante transcrição da transcrição de Rubem Alves. Abraços e feliz 2mil9!!

Metonímia é quando uma imagem nos conduz a outra por relações de proximidade. Tenho um peso de papel sem valor que o meu pai me deu. É claro que ele não se parece com o meu pai. Não é metáfora. Mas foi objeto do meu pai. Ficava na sua mesa de trabalho. Por isso, porque o peso de papel e o meu pai estiveram juntos, o peso de papel me lembra o meu pai.

Num artigo, eu me referia ao poder pedagógico das metonímias e relatei uma experiência infantil, quando estava no primeiro ano do Grupo Escolar Brasil, na cidade de Varginha. Era o ano de 1942. Minha professora era a dona Clotilde. Como é possível que muitos não tenham lido o artigo a que me referi, vou transcrever o trecho relevante: "Ela fazia o seguinte: sentava-se numa cadeira bem no meio da sala, num lugar onde todos a viam — acho que fazia de propósito, por maldade — , desabotoava a blusa até o estômago, enfiava a mão dentro dela e puxava para fora um seio lindo, liso, branco, aquele mamilo atrevido... E nós, meninos, de boca aberta... Mas isso durava não mais que cinco segundos, porque ela logo pegava o nenezinho e o punha para mamar. E lá ficávamos nós, sentindo coisas estranhas que não entendíamos. (...) Terminada a aula, os meninos faziam fila junto à dona Clotilde, pedindo para carregar sua pasta. Quem recebia a pasta era um felizardo, invejado. Daí, criei o ditado, 'quem não tem seio carrega pasta'". Traduzida para a pedagogia, essa metonímia significa que, com freqüência, os alunos são capazes de aprender coisas difíceis (carregar a pasta) em virtude da admiração que sentem pelo professor.
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